sábado, 11 de outubro de 2014

Atrás da porta


liguei de novo
a luz, nas badaladas
das 4 da manhã
e eu digo a você:

"vamos a paz
iremos com luz
ou seja a tua própria
em minha penumbra''.

você sorri naturalmente
e me beija, e me pede
contra a minha vergonha
que sorria, e estamos na paz

que em todos esses anos,
eu vejo tão mais rala
e quanto a você
tão mais funda.

mas diz me agarrando
com uma mão, em outra
pondo outra música
e atrás da porta, vejo:

que paz estão nos cantores,
com as dividas, o mal fim
a fome, a morte, os cordéis
veja atrás da porta:

''é deles a opção de cantar
ou é como condição dos poetas?''
e ela me diz: '' são os condicionados,
como a condição de se amar dois malditos poetas.

nas noites de almodóvar
o mundo inteiro morreu
''esses são pouco felizes''
''os que cantam''?

''é, os que estão dentro do público
nas mais solitárias notas''.
a paz, pra eles, só sobre a guerra
''Mas e quanto a nós''?

e teve medo, e correu pra detrás da porta:
''somos felizes, pela paz
pois estamos em nós''.
e ela sorriu, atrás da porta

pobre d'alma funda
e boca rasa.


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